‘É para as pessoas se divertirem com a Matemática’, defende Viana
Diretor-geral do IMPA foi entrevistado pela Revista Carioca de Educação Pública
O diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, participou da edição especial “Rio, Capital da Matemática”, da Revista Carioca de Educação Pública. Publicada em julho pela Escola de Formação Paulo Freire, a revista reúne artigos, entrevistas e relatos de práticas pedagógicas de docentes da rede sobre os desafios e conquistas no ensino da matemática. O projeto é uma realização do CREP-AT (Centro de Referência da Educação Pública da Cidade do Rio de Janeiro-Anísio Teixeira).
Na entrevista, Viana defendeu que a matemática deve ser uma aliada dos estudantes, quebrando a visão de que a disciplina é algo ruim ou complicado. “O que as neurociências nos ensinam é que nós nascemos com um cérebro muito plástico, capaz de se adaptar a diferentes circunstâncias, diferentes propensões, preferências. Então, se a gente gosta de matemática ou não, depende sobretudo das experiências iniciais, do grau de estímulo, do modo como a matemática é apresentada. […] É para as pessoas se divertirem com a matemática, matemática é um barato!”
Para ele, os professores foram fundamentais desde a infância, inclusive dentro de casa. “Conto com frequência que a minha primeira professora nos Anos Iniciais foi a minha própria mãe. O meu gosto pela matemática acho que começou antes disso, inclusive. Enfim, dei sorte. Não acho que tenha mérito especial meu. Dei sorte de ter tido sempre muito bons professores. Então, eu adorava a matemática”, disse.
Essas experiências iniciais passam, sobretudo, pela dinâmica criada pelos professores em sala de aula, mas ainda existem muitos desafios no processo de formação dos docentes, como afirma Viana. “O grande ator, o protagonista do processo educacional é o professor. […] E, de um modo geral, faltam na carreira do professor incentivos à qualidade, à excelência. As nossas carreiras não são atraentes, não trazem incentivos para o professor se diferenciar. Pelo contrário, eu tenho a impressão de que um professor que se diferencia vira mais um incômodo no seu ambiente. […] Nós precisaríamos embutir nas carreiras do professor, incentivos à progressão, como é feito em outros países.”
A Olimpíada do Professor de Matemática no Ensino Médio (OPMbr), as premiações da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) para os professores que se destacam em suas escolas, o PAPMEM (Programa de Aperfeiçoamento de Professores de Matemática do Ensino Médio) e o PROFMAT (Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional) são algumas das iniciativas positivas citadas por Viana para melhorar a qualidade da estruturação das carreiras docentes no Brasil, mas ele defende que é necessário ir além.
“É importantíssimo dar uma boa formação inicial na licenciatura, e isso eu creio que, de um modo geral, nós fracassamos em fazer, mas também fazer, criar programas, criar atividades, que vem junto do incentivo à progressão, do incentivo à excelência, que atualizem o professor”, defendeu o diretor, ao destacar a falta de apoio de programas que façam com que essa matemática se torne mais atrativa.
Parcerias do IMPA com a Prefeitura
O primeiro programa de graduação do IMPA, o IMPA Tech, também ganhou destaque na revista. Financiado pelo Governo Federal e criado em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro, o bacharelado em Matemática da Tecnologia da Inovação fica no Porto Maravalley, hub de inovação na zona portuária da cidade.
“A graduação é voltada prioritariamente para a formação profissional de pessoas que não tenham trauma com a matemática que se sintam à vontade com a disciplina. […] Nós queremos formar jovens que tenham o conhecimento, a capacidade e a propensão para utilizarem a matemática na resolução concreta de problemas. E, desde o início, desenhamos junto com a Prefeitura um projeto, uma graduação que atrai estudantes do Brasil inteiro. Usamos a OBMEP e o ENEM para isso, tendo como principal critério de seleção o desempenho na OBMEP”, explicou Viana.
O processo seletivo do IMPA Tech é feito através de olimpíadas científicas como OBMEP, OBM, OBI, OBQ e OBFEP, ou a nota de Matemática do ENEM. A segunda fase é de entrevistas individuais on-line. Inaugurado em 2024, a graduação está atualmente na sua segunda turma, com mais de 150 estudantes das cinco regiões brasileiras.
Os discentes ainda contam com auxílios estudantis, como explica Viana. “Muitos desses estudantes, a grande maioria, vêm de famílias carentes, então nós providenciamos o alojamento, e isso é cortesia da própria Prefeitura. […] Nós damos auxílio para subsistência, auxílio de alimentação etc., que vem do Governo Federal, o qual também custeia as equipes e a manutenção predial, entre outros”, disse.
Mas a parceria do IMPA com a Prefeitura do Rio de Janeiro não começou com o programa de graduação. Na entrevista, Viana também destacou o projeto de análise de chuvas criado pelo Centro Pi (Centro de Projetos e Inovação IMPA), em 2022, por encomenda do COR (Centro de Operações Rio), e a OCM (Olimpíada Carioca de Matemática), realizada pela SME-RJ com o apoio do instituto desde 2021.
O sucesso da OCM no Rio de Janeiro, aliás, foi um propulsor para a criação da Olimpíada Mirim – OBMEP em 2022, que atualmente reúne 5 milhões de alunos do 2º ano ao 5º ano do Ensino Fundamental de mais de 34,9 mil escolas públicas e privadas de todo o Brasil.
“Nós já fazemos a OBMEP, há muitos anos (estamos comemorando 20 anos agora), mas nunca tínhamos tido realmente a coragem de fazer uma prova de Olimpíada para a faixa etária dos anos iniciais, e aí vai uma preocupação de que, sabemos que a linguagem tem que ser adequada ao interlocutor, no caso, uma criança de segundo ano, terceiro ano, dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Sabíamos que a linguagem teria que ser diferente. Então, ao começarmos a fazer a OCM, como um parceiro, e descobrirmos que dava certo. O sucesso da OCM nos encorajou de maneira muito direta a iniciarmos a Olimpíada Mirim”, explicou Viana.
Confira a versão digital da edição especial “Rio, Capital da Matemática” da Revista Carioca de Educação Pública e leia a entrevista completa.
