Projeto Portinari leva trabalho do pintor ao IMPA Tech
João Candido Portinari, filho do artista, apresentou obras icônicas aos estudantes
O matemático João Candido Portinari apresentou, na última quinta-feira (30), o projeto que busca manter viva a obra do pai, o pintor Candido Portinari (1903-1962), um dos expoentes das artes plásticas no Brasil. O Projeto Portinari, criado em 1979 no Departamento de Matemática da PUC-Rio, é responsável por identificar, catalogar e reproduzir as artes do artista, que é uma das peças-chave do Modernismo Brasileiro.
“O Brasil é um país de formação multicultural, os povos originários, as sucessivas ondas de imigração europeia, os africanos que vieram escravizados, os asiáticos que vieram depois… somos um país de múltiplas cores e sotaques. Uma consequência disso é que, durante muito tempo, nossa arte foi uma arte emprestada. Nas primeiras décadas do século XX, muitos artistas buscaram fazer uma síntese da arte do Brasil, mas poucos foram tão bem sucedidos como Candido Portinari. Gosto da ternura e do olhar carinhoso com o qual ele olha cenas do dia a dia brasileiro”, disse o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, ao receber João Candido no IMPA Tech.
As obras de Portinari retratam, de forma social e humanista, o povo e a realidade do Brasil. Suas pinturas abordam temas como desigualdade, a vida no campo, a infância e o sofrimento dos trabalhadores. Valorizando cor e forma, Portinari deixou um acervo de mais de 5.400 obras, como Retirantes (1944), Café (1935), Criança Morta (1944) e a grandiosa Guerra e Paz (1952-1956), formada por dois grandes painéis, encomendados pela ONU (Organização das Nações Unidas) — considerada seu maior legado.

João Candido no IMPA Tech
João Candido destacou a felicidade de pisar novamente em uma faculdade de Matemática. “É uma grande emoção poder voltar às minhas origens. Espero que aproveitem essa viagem emocionante pela obra de Portinari. Mais da metade da minha vida foi dedicada a esse projeto, que nasceu sob o olhar de grandes nomes da ciência brasileira”, disse.
O artista participou da elite intelectual e conviveu ao lado de figuras importantes da história brasileira. Seu legado já foi apresentado em mais de 480 palestras, em diferentes centros de ciência e tecnologia, instituições de educação e museus no Brasil e no exterior. São mais de quatro décadas de palestras e apresentações multimídia.
A aluna Beatriz Nunes, que estudou em uma escola cujo uniforme tinha figuras da obra de Portinari, destacou o impacto do encontro. “Foi um privilégio conhecer um pouco mais da história do Candido Portinari. Cresci vendo suas pinturas e, mesmo sem saber o significado, era impactada pelas artes. Quando saí do Ensino Médio, consegui refletir mais sobre a desigualdade e histórias de vida de outras pessoas a partir da arte”, disse.
A matemática foi crucial para possibilitar o lançamento do site do Projeto Portinari, que reúne todo o conteúdo digitalizado e aberto ao público. Ao organizar o acervo, foi realizado um cruzamento de dados, entre cartas, textos e rascunhos, para identificar obras. “A solução já não estava mais no pincel, mas na matemática”, contou João Candido.
Para Beatriz, a união entre ciência e arte foi uma surpresa inspiradora. “Não imaginava que a matemática e a tecnologia estão ligadas às artes. As pinturas são muito complexas e possibilitam muitos estudos minuciosos. Fiquei bastante surpresa.”
Desde o final da década de 1990, participantes do Projeto vêm aplicando algoritmos para analisar traços microscópicos das telas de Portinari — como a espessura da tinta ou as curvas formadas pelo movimento dos pincéis. Essas características, registradas digitalmente, criam uma espécie de “caligrafia” única do artista, possibilitando a identificação precisa de suas obras.
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